quinta-feira, 17 de junho de 2010

Definições #2

AFINIDADE - ARTHUR DE TÁVORA.



Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois.


Afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. E o mais independente. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.


Afinidade não é haver tempo mediando a vida. E uma vitória do adivinhado sobre o real, do subjetivo sobre o objetivo, do permanente sobre o passageiro, do básico sobre o superficial.


Ter afinidade é muito raro, mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.


Afinidade não é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem, mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. E receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.


Afinidade é sentir com, nem sentir contra, nem sentir para , nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado e não para eles próprios.


Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.


Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade questiona por não aceitar.


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.


Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação, porque tempo e separação nunca existiram, foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida para que maturação comum pudesse se dar e para que cada pessoa pudesse, possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

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