Num site de um companheiro expatriado... que me parece que já foi embora, mas onde tudo se resume...
João, desculpa mas roubei...
Pula em Luanda
"Muitos conheço que deixariam o texto em branco, confesso, mas seria injusto, eu nunca o poderia fazer.
Na realidade, para se viver em Luanda é preciso uma certa capacidade de adaptação, há quem diga que é preciso ter “estômago”. No fundo é procurar olhar para o lado bom e tentar esquecer o lado mau, é desfrutar do que um país como Angola tem para nos oferecer, é aproveitar o melhor de Luanda.
Lembrar que aqui, mesmo no inverno faz calor, aqui temos praia o ano inteiro. Atravesso Luanda num sábado à tarde, dirijo-me até à ilha, estaciono o carro e dou um mergulho, em qualquer altura.
A noite em Luanda é também muito animada, embora cara, tem uma vasta oferta: bares à beira mar, bares com música Angola, bares com música comercial, pop, house e outras mais, bares onde os corpos se juntam para dançar kizomba, bares com maior percentagem de expatriados, bares com mais nativos, bares onde todos se misturam e onde todos são iguais, bares onde não devemos ir. Uma vasta oferta.
Saber que a oferta está praticamente toda na rua. Sim, por entre as vias, moços vendem jornais, outros carregadores, pilhas, pastilhas elásticas, tapetes, uns quantos cobertores, pão, candelabros, tomadas, tabaco, está tudo ao alcance de um braço, basta baixar o vidro do carro.
De dia é agradável caminhar por Luanda, observar gestos e hábitos, e ao dizer “boa tarde” recebemos uma resposta e um sorriso.
Maravilhoso é ver o dia tornar-se noite, observando o fantástico pôr-do-sol a partir da baía de Luanda.
É bom observar algum do legado que os portugueses deixaram, é bom ver que muitos angolanos reconhecem esse legado.
De noite vou até à ilha, dali olhar a cidade é simplesmente fantástico. A mesma transforma-se, edifícios altos, iluminados, ao longo da marginal da baía, formam um cenário para se contemplar.
Devo ainda recordar que vir para Luanda é vir para uma cidade que, embora ligeiramente afectada, está longe de ter sofrido as consequências que se deram em outros países. A crise também passa aqui, mas ainda não se instalou como em outras paragens. Vir agora é diferente de ter vindo há 2 ou 3 anos, os ordenados eram bem mais chorudos, ainda assim, ainda se vem ganhar umas 3 vezes mais do que em Portugal. É bom o factor económico, mas de lembrar que não será tudo.
Aqui criamos laços fortes, por entre aqueles que, tal como nós, estão longe de Portugal. Tudo tem mais significado, as coisas são menos fúteis.
Aqui aprendemos a dar valor ao que realmente importa, aqui, aprendemos que não nos devemos chatear com as pequenas coisas, aqui aprendemos que um sorriso para alguém pode despoletar uma alegria imensa.
Ainda em Portugal, falava com um colega de trabalho que viria em breve e pela primeira vez a Luanda. Sei que muitos não veriam com bons olhos uma estadia prolongada em Luanda, mas este colega iria permanecer apenas 15 dias. A conhecer um novo país, um povo diferente, sendo pouco tempo, julguei que até gostasse da experiência. Confessou-me que não queria mesmo ir a Luanda, que tinha de ser caso contrário não iria, que achava já à partida que não iria gostar.
Não é a minha maneira de ver as coisas, quero sempre conhecer novas realidades e procuro nunca criar preconceitos, de forma a conseguir retirar o melhor de cada experiência.
Mas perante tão firme sentimento do meu colega quanto à sua viagem, restou-me dar-lhe apenas um conselho:
“Por vezes é bom irmos para um sítio que de facto não gostamos, é bom pois aprendemos a dar mais valor ao que realmente importa”.
Eu? Bem, eu aprendi a dar mesmo valor ao que importa, mas, enquanto cá estou, vou aproveitando ao máximo o que Luanda tem de bom para me oferecer."
Podem ser as minhas palavras... especialmente estas últimas...
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